hoje serei direta. quando penso na década de 80, penso em tudo o que há de errado na sociedade: estados unidos, mc donald’s, publicidade excessiva, mom jeans, cores neon, conservadorismo e permanente no cabelo (só pra citar alguns exemplos). nada dos anos 80 é atemporal, TUDO GRITA ANOS 80 EM NEGRITO E COM MUITOS PONTOS DE EXCLAMAÇÃO!!!!!!!!!!!!!!
eu sei o quanto esse período foi experimental, colorido e extravagante. só que ninguém se veste daquela maneira pra comprar pão. a questão é: sem a violenta superprodução não resta nada legal sobre a década de 80. TUDO é excessivamente demais: as músicas, os efeitos, as roupas, a maquiagem e por aí vai. isso funciona em uma noitada, mas e no dia a dia? não resta glamour nenhum.
fora que o planeta terra parecia um grande laboratório de fabricação em série. todo mundo se vestia igual e todas as músicas tinham os mesmos efeitos sonoros tenebrosos. eu não me importaria se a sociedade se vestisse como no studio 54, mas os anos 80 eram bregas demais no pior sentido da palavra porque existem coisas bregas que são legais, como por exemplo a banda calypso antes da separação do casal joelbinha, mas existem coisas bregas pelo simples fato de serem bregas. brega e ponto. essa é a minha opinião, doa a quem doer.
e falo tudo isso com muita propriedade. antes de ser uma pessoa, eu fui uma adolescente que era maluca pela década de 80. minha banda favorita era duran duran, o filme era the breakfast club, a trilogia era de volta para o futuro, o livro era almanaque anos 80, a série era fullhouse e minha alma gêmea era o john taylor de 1982 mais precisamente.
quem entende minimamente de moda já conhece o chamado ciclo dos 20 anos. sempre olhamos pra 20 anos atrás em buscas de inspirações e eu não sei muito bem o porquê. na verdade, tenho uma teoria: a desilusão. a vida adulta é uma merda e a gente quer voltar a ser criança. quem é saudável busca curar a criança interior comprando bugigangas compulsivamente, quem não é apenas vira o maior chato do rolê.
agora um desabafo: acho que não existe uma fase pior do que a dos 20 e poucos anos. é você caindo em queda livre sozinho e tendo que aprender a sobreviver no mesmo instante. adolescente é tão ingênuo que acha que nada é pior do que aquilo, mas a vida prova que sim, sempre pode ficar pior. é que nem essa música do porno for pyros: teenagers are fucked up in the head, adults are only more fucked up.
por que estou dizendo isso tudo? por causa do julian casablancas e de mim. nascemos com 1 mês e 20 anos de diferença. nós dois também nos refugiamos nas nossas infâncias. ele com sua década de 80 pra lá e eu com a de 2000 pra cá. quase almas gêmeas.
não sei se é meu sentimentalismo, mas acho que os anos 2000 combinam demais com a annavoid adulta. inclusive grande parte desta newsletter é uma eterna nostalgia e eu peço desculpas por isso, às vezes exagero mesmo. mas o julian casablancas… ele é anos 70 total. is this it, a melhor coisa que ele fez na vida, com certeza tocaria no cbgb em nova york no ano de 1978. era pra ele ser o lou reed dessa geração, o iggy pop, talvez até o jim morrison, mas não, ele preferiu os arcades, a televisão ruim, a moda ultrapassada e os cortes de cabelo medonhos da década de 80 porque isso foi a infância dele e, de certa forma, traz conforto. parece que ele entrou em uma máquina do tempo e foi parar em 1987, só que lá todo mundo morreu e não há esperanças de prosperidade. tipo aquele episódio de black mirror, san junipero. um pesadelo.
e o pior é que ele vê the strokes (a melhor banda que ele já fez parte) apenas como algo pra recorrer quando está sem dinheiro. o que ele curte mesmo é the voidz, um projeto oitentista datado que absolutamente ninguém além dele gosta.
sei que no início citei algumas qualidades dos anos 80 que foram fruto do movimento new wave, o priminho gls do punk. mas HOJE quem ainda acompanha stranger things insiste em pegar as tendências mais entediantes da época. aparentemente tudo o que existiu foi camiseta oversized com estampa engraçadinha + mom jeans de cintura alta + tênis da nike. do outro lado temos millennials birutas como o julian casablancas que acham que vivem em um eterno remake exagerado de tron.
precisamos manter o equilíbrio. vamos pegar o que a década de 80 tem de melhor e ver o que as outras têm a oferecer também. parece que quando procuram inspirações no passado, só existem os anos de 1981 a 1990 (tirando o y2k, que, pra mim, é um grande alívio no meio dessa sonolência toda). vamos mudar o disco, meus amores!
devido a essa alienação em massa, fiquei imensamente aliviada quando encontrei essa tiktoker de moda que odeia os anos 80. que em 2025 aprendamos muito com ela!
eu falo isso e repitirei quantas vezes for necessario: alcançamos o apice como sociedade nos anos 90.