pra ler e ouvir:
a música do yoñlu é triste. primeiro porque ele era triste. segundo porque ele morreu aos 16 anos. terceiro porque ele escolheu morrer aos 16 anos. quarto porque eu acredito que ele poderia ter feito coisas maravilhosas se tivesse escolhido viver.
eu não gosto do sensacionalismo que existe em torno do yoñlu. é como se o auge da vida dele fosse a própria morte, só tem isso nas redes sociais. gosto de lembrar dele vivo. ele se chamava vinícius gageiro marques e nasceu no primeiro dia de setembro de 1989, em porto alegre. virginiano, portanto. foi um gênio precoce, falava inglês e francês fluentemente, amava música, lia livros complexos demais pra idade e tinha vários hobbies artísticos. ele desenhava, escrevia, tocava instrumentos musicais, fotografava, compunha – tudo muitíssimo bem.
o yoñlu, assim como qualquer adolescente normal, vivia na internet. ele deixou vários rastros por aí e é muito legal perceber que ele era gente como a gente. a yoñlupedia faz um ótimo trabalho de pesquisa e coleta dessas informações. ele gostava de los hermanos, resenhava filmes da disney, se apaixonou, se decepcionou e postava desabafos em um blog. bem familiar, não? gosto de pensar que a gente eventualmente se trombaria na internet em algum momento. ele esteve nos mesmos lugares que eu, apenas com alguns com anos de diferença.
aqui o único vídeo que se tem notícia do yoñlu tocando música:
vasculhar a vida ~cibernética~ dele é também relembrar tempos mais simples de internet, quando ela ainda era uma potência de compartilhamento, quando era usada pra se conectar com os outros e consigo mesmo, quando tudo era novo e revolucionário, quando ainda era possível se desconectar. tempos que não voltam nunca mais.
★ links cibernéticos interessantes ★
✸ yoñlupedia, um tesouro pra todos os viciados em yoñlu
✸ thread sobre a vida do yoñlu
✸ thread sobre as maiores influências do yoñlu
✸ thread sobre músicas que o yoñlu gostava
✸ trailer do filme yoñlu (2018)
o fato de que o yoñlu escreveu e gravou suas músicas completamente sozinho no quarto torna tudo extremamente pessoal e real, como se ele estivesse me contando um segredo pelo msn, sabe? ele me acolhe quando estou extremamente mal e consegue me tirar do fundo do poço porque a obra musical que ele deixou é linda. quando eu ouço waterfall, me lembro da simplicidade da natureza e isso aquece meu coração. é o suficiente.
pra mim o yoñlu tem cheiro de lavanda. quando eu estava na pior e tudo o que fazia era ouvir as músicas dele, era isso que saía do difusor de aromas. a lavanda me acalmava e me anestesiava, que nem as músicas dele. era a combinação perfeita.
ouvir yoñlu é como mergulhar em uma banheira e ficar lá pra sempre, sem perigo de morrer afogada, só pra ouvir o barulho da água e sentir a pressão dela. o mundo fora dali não importa porque eu estou quentinha dentro da banheira. talvez essa seja a sensação que ele quis passar quando escreveu reinvaginated just to rewind, back to the time i had a future i could see. a rita lee pensou em algo parecido ao cantar quero voltar invisível pra dentro da barriga da mamãe – lema desta newsletter, inclusive.
o yoñlu me lembra outro artista que também só teve reconhecimento após a morte: nick drake. alguém recluso, alguém voz e violão, alguém que escrevia sobre o que é ser humano, alguém que morreu cedo demais. alguém que morreu com a idade que tenho hoje e eu acho que é muito cedo pra morrer, embora às vezes me ache tão velha. doido como o nosso cérebro prega umas peças na gente.
lembrete:
o yoñlu também criou um desejo muito peculiar em mim: quero conhecer porto alegre por ele. e também pelo júpiter maçã, mas esta é uma outra história.
Adorei a delicadeza e a sensibilidade com que você falou sobre o Yonlu e suas músicas! É tocante ver como você captou a profundidade e a sutileza presentes na obra dele. Sua partida precoce é, sem dúvida, algo lamentável, mas é reconfortante saber que ainda existem pessoas, como você e eu, que valorizam e se emocionam com tudo o que ele conseguiu construir em tão pouco tempo. Seu legado continua vivo através da arte que nos deixou. Ótimo texto parabéns 💗
Ótimo texto! O que me toca no Yoñlu é como ele encapsula uma época da internet que vivi de perto: blogs como diários amadores e constantemente descontinuados, MSN como um novo método de interação para afetados pela timidez, e a criação artística que nascia no quarto, feita para poucos olhos. Ele traduz a vulnerabilidade que existia naquele espaço digital ainda ingênuo, algo que hoje parece distante. É impossível não sentir a força do “e se” quando penso nele — ele era como tantos de nós naquela época, mas dotado de um absurdo talento. Pensar no Yoñlu me faz refletir sobre o quanto a arte pode nos conectar ao que há de mais humano, mesmo quando tudo ao redor parecia estar se transformando rápido demais.