para ler & ouvir:
tive muitos diários que foram destruídos por mim mesma durante a vida. sou catastrófica e fã de fins definitivos. desde criança eu colocava defeito na minha letra, no caderno, na caneta e nos próprios acontecimentos que nunca eram suficientemente legais para serem escritos no papel. sempre acabava rasgando tudo e jogando no lixo. com certeza deve ter uma explicação psicanalítica para isso.
mesmo assim, nunca desisti de escrever sobre mim. talvez por ser leonina & egocêntrica? não sei. eu queria colocar para fora o que eu não conseguia falar para ninguém. calma, não era nada demais. eram apenas minhas impressões sobre o que vivia. queria me sentir real. naquela época eu estava mais para um fantasminha fã de high school musical. depois virei uma pré-adolescente revoltadíssima, cheia de raiva dentro de si – foi ela que mudou tudo.
no natal de 2010 eu pedi de presente uma camiseta do metallica, um anel de caveira e um diário. ganhei um com cadeado e me senti super adolescente por isso. a primeira coisa que escrevi foi: “tenho 12 anos (em breve terei 13). moro com meus pais e meu irmão. aqui vou contar como são meus dias, meus pensamentos e desejos (lembre-se desta parte)”. depois disso, fiz e respondi ao seguinte questionário:
★ annavoid de 12 anos ★
✸ cores favoritas: preto, vermelho, branco e azul (quer algo mais básico que preto e branco?)
✸ time: são paulo (meu deus? eu sou corinthiana!)
✸ bandas favoritas: beatles, metallica, the runaways, ac/dc, led zeppelin e the doors (só beatles na causa)
✸ maior desejo: encontrar algum amigo que me entenda, me respeite e me valorize (encontrei!!!!!!!!)
de todas as minhas amigas, acho que fui a única que teve um diário. eu pensava que isso era popular, já que a premissa de todo filme infantil envolve um diário roubado. não sei se quando comecei a escrever o hype já tinha passado, mas ainda bem que sempre fui vintage. criei tanto gosto pela coisa que tive mais cinco diários depois do primeiro. parando para pensar, isso é pouco considerando que 14 anos se passaram. é que eu não escrevo todos os dias (contrariando o próprio nome “diário”). escrevo quando sinto vontade e escrevo sobre o que me dá vontade. descrições extensas do que fiz ou deixei de fazer nunca foram a minha praia.
mas sobre o que escrevo, então? depende. posso escrever rapidamente sobre um dia legal, mas também frases que me impactaram, agradecimentos, pedidos de desculpas, história da minha própria vida, resenhas de filmes e discos, reflexões sobre o passado, dúvidas quanto ao futuro ou desejos que se tornam mais reais quando colocados no papel. às vezes nem escrevo, apenas faço colagens da ~vibe~ do momento, que atualmente é 100% olivia rodrigo na era sour.
escrever também é uma forma de se perceber como um indivíduo em um contexto histórico próprio. muitas pessoas que admiro tiveram diários, como marilyn monroe, frida kahlo, sylvia plath, anaïs nin, carolina de jesus, kurt cobain e franz kafka. almas sensíveis e únicas, algumas eternizadas justamente pela publicação de seus escritos pessoais.
se você é curioso que nem eu, vai adorar esse vídeo da maravilhosíssima editora antofágica sobre o que autores famosos escreviam em seus diários:
por que ter um diário?
✸ não incomoda seus amigos ao desabafar pela milésima vez sobre o mesmo problema
✸ reduz a ansiedade
✸ ajuda a perceber certas situações por outras perspectivas
✸ desenvolve a criatividade
✸ melhora a escrita
✸ traz autoconhecimento
✸ é bom rir do seu eu do passado que era mais bobinho do que o atual
✸ te torna mais leve
escrevi pela última vez no meu diário na semana passada. em meio a figurinhas de gatinhos, escrevi a seguinte frase: “quero que saibam que fui uma pessoa com sentimentos, sonhos e desejos”. a nossa essência nunca muda, né?
hoje também compreendo melhor a magia da escrita. ela não tem limite temporal. talvez em algum momento, séculos após a minha morte, alguém vai encontrar meu diário e se identificar, rir, chorar, se entreter. com a escrita eu posso me comunicar com pessoas do futuro. talvez essa seja a minha forma de permanecer viva mesmo após a morte. é que eu amo muito a vida e o planeta terra. voltaria em uma próxima reencarnação para cá. você me acha maluca?
antes de dizer tchau, gostaria de fazer a primeira #publi do anna’s void! na verdade não estou recebendo nada por isso, apenas gostaria que o BRASIL conhecesse a lojinha fofuras da marina, feita pela marina que é super talentosa. eu comprei a vaquinha de duas cabeças inspirada no poema the two-headed calf, da laura gilpin. agora posso abraçá-la todos os dias!


bye bye, aqui eu me despeço!
Incrível como eu me identifiquei com >cada palavra< desse texto. Sempre coloquei (e ainda coloco) defeito em tudo o que envolvia meus diários, inclusive no fato de eu não escrever diariamente.
Adorei!! Também sempre tive diários desde criança, quando leio os mais antigos ou fico cringe ou fico rindo muito, geralmente os dois. Em 2021 fui diagnosticada com depressão e ansiedade, e desde então eu voltei valendo com os diários e escrevo bastante, consigo encontrar a paz, eles têm me salvado!! Além de que me sinto uma fadinha super etérea quando escrevo. Amo demais.