é impossível encontrar fotografias minhas quando pequena comemorando meu aniversário. em qualquer uma delas estarei no centro da mesa, chorando e berrando pra não cantarem “parabéns” pra mim. ou então não apareço porque estou trancada no banheiro pra evitar situações parecidas com a que descrevi acima.
quando criança, não queria ser o centro das atenções e/ou não sentia ser digna de alguma parabenização. depois, mais crescidinha, simplesmente adquiri consciência. consciência de que a vida é finita e de que tudo um dia vai ter fim. na minha mente imatura-fatalista-catatônica, eu não tinha motivo nenhum pra comemorar.
algumas “comemorações” memoráveis
✸ 3 aninhos: só me lembro de estar bravíssima porque queria escolher as músicas que tocariam na minha festinha e NÃO QUERIA DE JEITO NENHUM QUE TOCASSE “ANNA JÚLIA” DA BANDA LOS HERMANOS.
✸ 7 aninhos: o tema da festa foi BARBIE e só duas pessoas vieram. uma delas foi a menina que nunca devolveu meu dvd do “my scene”. que amizades são essas?
✸ 8 aninhos: pra mim a festa mais badalada de todas, pois foi da HELLO KITTY. bons tempos em que era possível fazer um aniversário com 100 reais e ainda sobrava dinheiro, apenas os millennials vão lembrar.
✸ 9 aninhos: minha última festa de aniversário. o tema foi princesas da disney (o que não faz sentido porque eu não era muito ligada em princesas ou na disney e muito menos em princesas da disney). sinceramente não lembro de muita coisa, apenas que quebrei um dos presentes quando fui abrir. tonta.
✸ 14 aninhos: depois da meia-noite loguei no meu perfil do last.fm, apertei f5 e lá estava: “annavoid, 14, female, Brazil”. aquilo acabou comigo, me senti velha demais.
✸ 15 aninhos: fiquei extremamente melancólica porque caiu em uma quinta-feira (mesmo dia que nasci) e estava chovendo (mesmo tempo quando nasci). só tive energia pra escrever uma carta pra mim mesma, chorar ouvindo “the dark side of the moon” (pink floyd, 1973) e passar roupa. sério.
✸ 16 aninhos: passei a madrugada toda chorando na cama ao som de “you’re a big girl now” do bob dylan.
✸ 18 aninhos: resolvi dar uma mudada e fui ao madame satã. foi legal porque tocou duran duran duas vezes e eu amava duran duran naquela época. mas depois disso, só comprei um bolinho e fiquei em casa mesmo. sem festa, apenas tristeza.
mas algo estranho aconteceu no meu aniversário de 22 anos. eu estava feliz. não tinha chorado. estava em paz. isso era, no mínimo, estranho.
naquela época, quando sentimentos bons apareciam, gostava de ouvir coisas que me deixavam mal pra (tentar) atrelar memórias felizes a elas. então depois da meia-noite fui ouvir uma banda que detestava: the strokes.
nunca entendi o hype. tentei ouvir muitas vezes e nada. ruim, chato, pretensioso demais. me irritava aquela atitude blasé de “odeio a mídia” e “odeio a mtv” porque eles apareciam o tempo todo em filmes mainstream tipo “homem-aranha” (sim, o que tem a diva kirsten dunst) e na própria mtv. hipócritas.
e também… olha pra eles. tenho certeza de que pelo menos um se parece com aquele carinha que nunca foi oficial, mas que acabou com o seu psicológico e é tema de sessões de análise 10 anos depois. caso não, lamento informar, mas você é esse carinha e eu espero que tudo dê errado na sua vida.
mas enfim. resolvi dar mais uma chance e tentar entender o que o “is this it”, de 2001, tinha de tão especial assim. afinal, ele recebeu nota 9.1 da pitchfork e absolutamente qualquer pessoa que entenda de música diz que os strokes salvaram o rock com esse disco.
e aconteceu. demorou, mas aconteceu.
depois de uma primeira ouvida, voltei pra primeira música, que também se chama “is this it”, e bateu. depois viciei na última, “take it or leave it”. convenhamos, isso foi genial da parte deles. eu tenho CERTEZA de que planejaram essa tracklist pensando em mim! “ela vai ter que ouvir o restante do álbum inteiro pra ouvir essas duas músicas”, pensou julian casablancas.
e o restante do álbum é simplesmente genial. você ouve e nem percebe o tempo passar. não é um disco conceitual, em que cada música se conecta com a outra, mas elas têm tanta coesão juntas que chega a ser mágico. apenas o primeiro dos ramones me fez sentir isso também. um som sujo, mas harmônico? um caos ordenado? a trilha sonora perfeita de nova york?
uma vez bizoiando vídeos antigos dos strokes, encontrei o seguinte comentário e precisei anotar no meu diário porque descreveu a minha vida 100%:
“[‘is this it’] is that album that you inadvertently come across when something is changing in your life. someway, somehow, you find it. you listen to it over and over again, and from that point on, it becomes the music you’re familiar with when your whole life becomes something you didn’t recognize”.
e eu obviamente fiquei maluca pela figura do julian casablancas. ele foi responsável por criar a imagem daquele cantor indie bêbado e sujo, que realmente não toma banho por meses, que tem bafo de bebida e que cheira a cigarro. eu tenho plena convicção de que o cantor que a lindsay lohan é apaixonada no filme “confissões de uma adolescente em crise” (2004) foi inspirado nele.
tudo isso para dizer que: hoje a minha relação com os meus aniversários é melhor. foi magia? foi deus? foi amadurecimento? foi o julian casablancas? não sei, mas já faz um bom tempo que não choro mais, que não tenho tanto pavor assim de envelhecer e que escolho celebrar as coisinhas boas da minha vida. ano passado até fiz um piquenique com as minhas amigas, vê se pode. você pode achar um papo meio #gratiluz, mas sou muito #grata pela minha vida e por todo mundo que está nela.
esse ano resolvi escolher meu bolo de aniversário e será da moranguinho. levei um sacode da moça que faz bolos porque ela achou infantil demais. sim, realmente, mas estou em busca da cura da minha criança interior e a miNHA CRIANÇA INTERIOR CLAMA POR UM BOLO DA MORANGUINHO.
um feliz aniversário pra mim e a todos os leoninos do brasil!
a sua newsletter me surpreende a cada frase. achei que você fosse falar de todos aniversários e de repente: the strokes kkkkkkkk te amo véi
ja tive um aniversario da moranguinho e posso afirmar que é 🍓🍓🍓🍓🍓
parabéns !!!